Continuando o post em que fiz a retrospectiva do primeiro semestre de 2020, agora vai o resumo do que aconteceu, mês a mês, no segundo semestre desse ano tão atípico:
julho: em meados de julho a enteada teve 1 semana de férias do colégio. Como estávamos bem cautelosos e receosos com a pandemia, meu marido combinou com a mãe dela que ela viria buscar e depois deixar a filha aqui em nossa cidade, de carro. Na data combinada para buscar, não tivemos nenhum problema; veio a mãe e os avós maternos de carro buscarem a garota. Mas na hora de trazê-la de volta, como já sabíamos que poderia ocorrer, os problemas começaram... Pra resumir a história, depois de muito transtorno a mãe da garota a mandou de volta pra cá, mais de 10 dias após a data combinada, de avião. Fiquei muito apreensiva com a possibilidade da enteada ter contraído o vírus durante a viagem e contaminar a todos aqui em casa, e obviamente bastante indignada com a falta de responsabilidade da mãe dela, que não só expôs a própria filha a esse risco, mas também a mim, meu marido e nosso filho. Mas felizmente nada de pior aconteceu, fora todo o desgaste emocional que isso nos causou.
agosto: ainda antes de retornar das férias (que deveria ter sido um momento de descontração e relaxamento junto à família materna, mas que na verdade foi um verdadeiro caos, com eles levando a garota para consultas com advogado, médico, psicólogo, pra tentarem encontrar uma desculpa para mantê-la lá a qualquer custo), a menina deixou claro para meu marido que não pretendia mais residir com a gente, por meio de mensagens de áudio no whatsapp onde ela aparentava um total descontrole, gritando e usando um vocabulário bem diferente do habitual. Como foi tudo bastante repentino (ela foi viajar falando que estava na dúvida se queria ou não continuar morando conosco e que iria aproveitar o momento para refletir, mas estava serena e tranquila), achamos prudente que ela retornasse para cá, para que, com calma e em um ambiente equilibrado, ela pudesse organizar os pensamentos e tomar uma decisão. Então, após voltar, conversamos com ela, e ela realmente confirmou que gostaria de voltar a residir com a mãe. Como o processo ainda seguia aguardando a decisão final, resolvemos que o melhor seria que a enteada fosse pra casa da mãe enquanto continuasse o regime de aulas virtuais, já que ficar aqui contra sua vontade não estava trazendo nada de positivo nem para ela, nem pra gente. No final do mês ela voltou pra residência materna para ficar lá enquanto durassem as aulas virtuais.
Em decorrência de toda essa confusão, somado ao estresse que eu já vinha sentindo em decorrência da quarentena (que me impôs uma rotina realmente extenuante de cuidados com a casa e ambas as crianças, adicionado ao homeoffice) comecei a me sentir realmente mal, psicologicamente falando. Na minha opinião de leiga, acredito que eu devo ter chegado perto de vivenciar um surto de pânico, ou algo similar... Só em imaginar a possibilidade de a justiça decidir que a enteada deveria ficar residindo indefinidamente conosco, contra a vontade dela, eu já sentia meu coração acelerar, me dava uma sensação de angústia e impotência enormes, vontade de gritar e fugir, e medo... eu nunca havia me sentido assim antes. Então comecei a fazer terapia, com a mesma psicóloga que já vinha tratando a enteada e meu marido, em consultas on line.
setembro: Eu tinha decidido que não faria nada para festejar os 2 anos do Nícolas, devido à pandemia e também devido ao estresse que eu já vinha acumulando ao longo do ano (eu estava realmente bastante desmotivada para organizar qualquer festa). Mas aí juntou o fato de que várias pessoas da minha família haviam contraído covid e se curado recentemente, com o fato de eu estar me sentindo mais tranquila após a ida da minha enteada pra casa materna, e aí resolvemos fazer uma festinha bem simples. Foi uma tarde deliciosa, onde eu me senti bem como não me sentia há bastante tempo.
Também em setembro, na última semana do mês as escolas e creches particulares reabriram na nossa cidade. Inicialmente eu estava bastante receosa em mandar o Nícolas, mas eu estava com muito medo de ter que voltar a trabalhar presencialmente de uma hora pra outra, e ele estranhar muito o retorno pra creche. Então resolvemos que ele voltaria, como relatei aqui. Seu regresso foi ótimo, a adaptação foi maravilhosa, e tudo correu muito melhor do que eu imaginava.
outubro: A escola da enteada resolveu voltar com atividades presenciais uma vez por semana (que na realidade não eram aulas, e sim atividades psicossociais), e com isso meu marido resolveu trazê-la de volta, como havia sido combinado previamente. Mas depois de um mês inteiro na casa da mãe, ela ainda estava resolvida que não queria mais morar conosco. Então eu e marido tivemos uma longa conversa, e finalmente ele resolveu desistir da guarda, e deixar ela direto por lá (ele justificou no colégio a ausência dela nas atividades presenciais). Imagino que para ele deve ter sido uma decisão muito difícil, pois ele acreditava (e eu também, em menor grau), que ficar aqui na nossa casa seria melhor para ela, mesmo que contra a sua vontade. E, pelo desenrolar do processo, tudo estava indicando que isso é o que iria acontecer. Porém a grande questão é que, embora o bem-estar dela seja de grande importância pra gente, o bem-estar do Nícolas e o nosso próprio bem-estar também são importantes, e não podem ser negligenciados (aprendi isso na terapia!). E infelizmente a convivência com ela não estava fazendo bem para nosso filho, nosso casamento e nossa família. Então o marido entrou em acordo com a mãe dela, extinguiram o processo e fizeram um novo acordo de guarda compartilhada com residência na casa materna.
Além disso, desde o final do mês anterior eu já estava me sentindo bastante fraca e cansada... Atribuí ao estresse passado, além de alguma carência severa de vitaminas. Até que no dia 16/10 resolvi fazer um exame de farmácia, e descobri que estava grávida novamente. Foi uma notícia que realmente nos pegou de surpresa, mas nos deixou bastante felizes (apesar de também bastante assustados). Depois dessa descoberta, fiquei ainda mais aliviada com a ida da enteada para casa da mãe dela. Seria realmente muito desgastante passar por uma gravidez e posteriormente por todas as dificuldades normais que um recém-nascido impõe, com uma adolescente revoltada dentro de casa.
novembro: Devido à gestação, desde o final de setembro eu não estava me sentindo muito bem, e em outubro isso se intensificou. Então em novembro eu aproveitei que o marido estava de férias (e se responsabilizou por todos os cuidados com o Nícolas e com a casa) e passei o mês praticamente todo dormindo. Eu estava realmente precisando dessa pausa. Só não foi melhor porque eu estava me sentindo realmente mal - além do cansaço, tive muitos enjôos. Mas ainda bem que eu pude contar com meu marido para tornar esse momento o menos ruim possível.
dezembro: no final de novembro as férias do marido acabaram, e eu voltei a ter que cuidar do Nícolas a maior parte do tempo sozinha. Mas em dezembro começou o período de meio-expediente em seu trabalho, então novamente ele assumiu a maior parte das tarefas, para que eu pudesse descansar a trabalhar com mais liberdade. Cabia a mim preparar o Nícolas para creche, levá-lo e buscá-lo, e aí chegávamos em casa mais ou menos no mesmo horário que meu marido, e ele se encarregava de todo resto. Nesse mês também voltamos a nos isolar mais; desde setembro havíamos voltado a nos encontrar com meus pais, já que eles já haviam tido covid, mas com os casos de reinfecção achamos por bem parar de encontrá-los, para segurança de todos. Também paramos de visitar e receber visitas da minha irmã, que antes estava em isolamento social junto da gente, pois ela começou a frequentar restaurantes e continuou a se encontrar com meus pais. Por esse motivo mesmo, resolvemos cancelar o encontro que faríamos no natal, e passamos tanto o natal quanto o reveillon em casa, dormindo. Como estou grávida, não pudemos nem mesmo tomar um vinho a dois para comemorar. Foi um pouco sem graça, já que eu adoro festejar essas datas, mas certamente foi a solução mais segura. Ainda teremos muitos natais e reveillons pela frente (espero) pra comemorarmos.
E vendo tudo que passamos em 2020 o que posso dizer é: Que ano!!! Que ano difícil, desafiador, mas também engrandecedor.
Para o planeta como um todo, nem preciso falar muita coisa, pois é tudo bastante óbvio. Minha única percepção é que perdemos uma oportunidade muito grande, enquanto humanidade, de mudarmos. No início da pandemia eu realmente acreditei que esse poderia ser um ponto de inflexão, onde iríamos rever nossos valores enquanto sociedade e tomar novos rumos. Infelizmente esse pensamento não passou de uma utopia ingênua, apesar de que pudemos ver exemplos pontuais de pessoas mais preocupadas com o coletivo do que com o individual. Mas no geral, nada mudou. Foi só um ano triste, de pessoas morrendo vítimas do egoísmo e descaso alheio.
Em relação à nossa família, posso dizer que passamos por maus momentos, principalmente no que se refere às minhas enteadas e sua família materna. Muitos desafios, principalmente em relação às dificuldades que a pandemia nos impôs. Mas conseguimos superar tudo, juntos. Para mim, pessoalmente, esse ano foi importante, pois com o auxílio da minha terapia - que iniciei para lidar com as questões associadas à minha enteada, e depois se estendeu para questões muito mais pessoais e complexas - pude entender e ressignificar muita coisa em mim mesma. Ainda estou em terapia, trabalhando muita coisa, mas consegui me livrar de muita carga que eu acreditava ser minha responsabilidade carregar. Estou bem mais leve.
Mas, para além dos momentos ruins, tivemos a grande sorte de não sofrermos nenhuma perda em nossas famílias, e por isso eu não poderia ser mais grata. Também, não posso deixar de lembrar de quão confortável é termos nossa estabilidade financeira. Mesmo com todas as dificuldades que enfrentamos, em nenhum momento tivemos que temer o desemprego, a fome, o despejo... Não posso imaginar quanto mais difícil tudo não seria se ainda tivéssemos que nos preocupar com essas questões.
E, claro, apesar de tudo, também tivemos momentos de muita alegria. Poder acompanhar o desenvolvimento do Nícolas ao longo desse ano, muito mais próximo do que seria, foi maravilhoso, apesar de desafiador. Ele tem se tornado um menino cada dia mais apaixonante, e não poderia nos dar mais alegrias. E a cereja do bolo foi a descoberta desse novo bebezinho que está a caminho, que com certeza vai trazer consigo novos desafios, e também alegrias e amor, para nossa família.
E que venha 2021, e que traga com ele a vacina, muitas alegrias e tranquilidade para todos nós.
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