Se existe algo que é quase unanimidade em espaços voltados a debater sobre criação de filhos, é que o uso de telas é prejudicial para crianças. Por isso sempre foi minha intenção, antes mesmo de ter filhos, adiar ao máximo a exposição das minhas crianças a telas, e quando isso acontecesse, limitar ao mínimo possível o tempo de exposição. E assim fizemos, até quando começou a quarentena, e aí começamos a usar a televisão como ferramenta para entreter o Nícolas em momentos que precisávamos nos concentrar em outras atividades ou quando simplesmente nossas energias haviam se esgotado completamente, como relatei aqui.
Ainda não mudei de idéia quanto ao uso de telas: realmente é importante limitar o uso. A luz azul emitida pela TV comprovadamente prejudica o sono das crianças, e o tempo que estão apáticas assistindo à televisão (ou tablet, ou celular) elas estão deixando de realizar atividades que desenvolvam habilidades como coordenação motora e outras...
De toda forma, não tenho mais o mesmo olhar que eu tinha antes, que a televisão era uma inimiga e deveria ser evitada ao máximo, se reduzindo quase a um "mal necessário"... Hoje enxergo a televisão como uma ferramenta, que pode ser bem ou mal empregada. E quando bem empregada, pode ser uma grande aliada no desenvolvimento da criança.
Ainda considero a maioria dos programas voltados para o público infantil bem pobres em conteúdo e ricos em estimulação ruim (cores extremamente fortes e irritantes, personagens que gritam e se comportam de maneira inconveniente, etc). Mas existem alguns poucos que considero bons, e se sairmos da bolha de programas voltados exclusivamente para crianças, temos muito conteúdo de qualidade. O maior exemplo que temos vivido aqui em casa é em relação à estimulação musical do Nícolas.
Eu adoro música, sempre adorei. Toco de maneira amadora clarinete e piano, e o marido toca clarinete e violão. Sempre foi minha intenção estimular meus possíveis filhos nesse mundo da música também. E a televisão tem sido uma enorme aliada nesse sentido! Não teríamos oportunidade de levar o Nícolas a um concerto por agora (por causa da pandemia, e também por causa da idade - possivelmente ele iria se cansar no meio ou iria se empolgar com a apresentação, e nos dois casos atrapalharia o público), mas temos colocado bastante vídeos de quartetos, quintetos e orquestras pra ele assistir. E ele não fica apático na frente da televisão; pelo contrário, ele interage bastante durante os vídeos. Ele imita os instrumentistas, usando seus instrumentos (ele tem um ukulelê, que serve como violão e violino nas suas brincadeiras, uma flauta doce, que serve como qualquer instrumento de sopro, e usa hashis como baquetas) e os maestros. Ele já tem até a performance preferida: Bolero de Ravel, conduzido pelo maestro Gustavo Dudamel e executado pela Orquestra Filarmônica de Wiener no Lucerne Festival 2010. Ele sabe exatamente a hora que cada instrumento entra (ele imita a flauta transversal colocando sua flautinha de lado, depois imita o clarinete com a flauta reta, e assim por diante), fala os nomes dos instrumentos, e ao final faz a mesma saudação do maestro. É uma graça assistir!!
Além da questão da música, também mostramos vídeos de animais, ou qualquer outra coisa que ele demonstre interesse no momento. Ultimamente ele tem visto muitos vídeos de gansos e cisnes, porque ele está apaixonado pelo Guido, personagem de uma coleção de livros que é um ganso. Colocamos vídeos de cisnes chocando os ovos, depois os filhotes nascendo e entrando na água pela primeira vez. Ele adora! Também temos colocado vídeos de pessoas praticando mountain bike, pois ele está apaixonado pela sua bicicletinha nova, e ele até empina a bicicleta, imitando o que vê nos vídeos.
Já houve uma época que colocávamos vídeos do fundo do mar, de passarinhos, e também a animação Minuscules, quando ele estava encantado por insetos.
E assim seguimos, desconstruindo conceitos e aprendendo juntos a vivenciar a maternidade/paternidade real, tão diversa daquela idealizada na época que não tínhamos filhos...
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