Um pouco antes do Nícolas nascer, eu escrevi uma carta para ele. Eu poderia dizer que a mesma carta serve pro Vinícius também, já que tudo que eu falei que desejo pro Nícolas também se aplica ao Vinícius. Não seria mentira dizer isso, mas também não seria totalmente verdadeiro, pois o sentimento que eu nutria antes do Nícolas nascer era muito diferente do sentimento que eu nutria antes do Vinícius nascer...
Antes do Nícolas nascer eu já me sentia mãe dele. Contava as semanas, os dias, as horas pro nascimento do meu filhinho, quando finalmente eu iria ver seu rostinho e pegá-lo no colo pela primeira vez. Mas antes do Vinícius nascer, eu me sentia mãe de um menininho que seria jogado para escanteio pela chegada de um novo bebê em casa... E não tinha pressa nenhuma que esse momento chegasse; na realidade, se eu pudesse eu atrasaria em mais alguns meses ou anos o nascimento desse bebê desconhecido para proteger o coração do menininho que estava prestes a ser substituído.
Não significa que eu goste mais de um ou de outro. Não tem nada a ver com um ou com outro e nem poderia ser algo pessoal, pois era o que eu sentia (ou não sentia) pelos bebês que estavam então dentro do meu útero e que eu ainda nem conhecia...
A gravidez do Nícolas aconteceu em um momento muito tranquilo da minha vida. Eu estava morando no exterior, em uma cidade que eu adorava, sem trabalhar, em um momento maravilhoso do meu relacionamento com marido. Antes de ficar grávida minhas "obrigações" eram cozinhar, passear com Mafalda e Matilda e frequentar minhas aulas diárias de espanhol. Depois que fiquei grávida até essas atividades eu encerrei, por me sentir indisposta. Então eu tinha o dia inteirinho para relaxar, me concentrar no meu bem-estar e sonhar com meu futuro bebê. Sentir seus movimentos na minha barriga, conversar com ele (ainda que em pensamento), me conectar...
Já a gravidez do Vinícius aconteceu em um dos momentos mais tensos da minha vida. Foi em 2020, em meio a uma pandemia, eu trabalhando em homeoffice com prazos apertados para entregar projetos ao mesmo tempo que cuidava do Nícolas pequeno (sendo que a creche não estava funcionando em período integral), nosso casamento estava passando por um período turbulento, a enteada S. passou a se comportar como adolescente revoltada, a família da enteada estava inventando todo tipo de mentiras contra nós para retomar a guarda... Enfim, foi um momento muito difícil, e se não fossem as mudanças físicas que a gravidez traz, muito provavelmente eu até esqueceria que estava grávida, por falta de tempo mesmo de pensar a respeito... Soma-se a isso o enorme medo que eu sentia de não dar conta de ser uma boa mãe para dois filhos, e dá pra se compreender o porquê de eu não conseguir me conectar a esse segundo bebezinho que crescia no meu ventre.
Mas, indiferente ao que se passava do lado de fora, após 9 meses Vinícius nasceu e aí não tinha mais como eu continuar alheia a ele... cuidar daquele bebezinho se tornou minha maior prioridade, e assim, na marra, fomos construindo nossa conexão.
Então agora, às vésperas do Vinícius completar 9 meses, resolvi escrever uma carta também para ele. Achei a data propícia, pois tive 9 meses para me conectar ao Nícolas dentro do meu ventre, e agora também completamos 9 meses de conexão, eu e Vinícius, já que começamos nosso processo depois que peguei ele em meus braços pela primeira vez.
Nenhum comentário:
Postar um comentário