quinta-feira, 10 de março de 2022

Carta para meu filho (Vinícius)


Estamos chegando a um marco importante nas nossas vidas... Em alguns dias você completará 9 meses de nascimento. Isso significa que a partir de agora você tem mais tempo de vida nos meus braços do que teve dentro do meu ventre... E agora, cada dia mais, sai de meus braços para conquistar o mundo...

Quando eu soube que você estava a caminho, senti um misto de sensações. Senti alegria, sim, por nossa família estar crescendo. Eu sempre quis ter uma família grande, sempre quis que Nícolas tivesse um amigo confidente e cúmplice, da forma que só irmãos podem ser. Mas também senti muito, muito medo. Sentia medo do Nícolas se sentir trocado, abandonado. E principalmente, sentia medo de não conseguir ser a mãe que você merecia ter... Mas lá no fundo eu ouvia uma vozinha (talvez fosse você me dizendo) que tudo ficaria bem. Que talvez ficássemos meio perdidos no início, mas que conseguiríamos fazer dar certo, e que valeria muito a pena. Uma vozinha me dizia que eu não precisava me angustiar tanto assim, e me acalentava nos momentos de choro...

Foram 9 meses intensos!! Você chegou já me trazendo um lindo presente: um trabalho de parto que eu gostaria muito de ter experimentado desde o nascimento do seu irmão, mas não pude. Acredito que nossa história de parto teria sido ainda mais linda e poderosa, mas infelizmente houveram algumas intervenções alheias a mim e a você, e não chegamos ao final pretendido... mas já foi suficiente para curar várias feridas que ainda estavam abertas em mim. Te agradeço por isso, meu filho. E então quando te vi pela primeira vez, eu soube que a coisa mais importante a partir daquele momento era cuidar de você. Prometi a você que eu faria dar certo, e que eu seria a melhor mãe que estivesse ao meu alcance ser, por você, mesmo sem ainda saber como faria isso.

Quanto ao meu medo de não dar atenção suficiente a você, por ter que me dividir entre você e o Nícolas, você nem me deu opção: exigia seu colinho e ponto final. Desde a maternidade você só adormecia se estivesse em meus braços. E nem adiantava tentar te colocar no berço depois de adormecido, pois você percebia e reclamava de forma firme e enfática. Passei algumas noites dormindo sentada, pra que você dormisse da forma que queria. E apesar do cansaço extremo, no fundo eu gostava, pois isso significava que você já me reconhecia como mãe e isso me empoderava de uma maneira muito significativa. Não fui eu que cresci como mãe, foi você que me segurou pelas mãos, como se eu fosse uma criança assustada, me levantou e me fez sentir que eu era sim sua MÃE, afinal de contas. 

E quando você e Nícolas se conheceram pela primeira vez, meu coração explodiu de alegria e transbordou de amor. Ver o quanto ele te amou desde o primeiro momento me trouxe um alívio enorme e me encheu de esperanças. Naquele momento finalmente eu tive a certeza que, sim, faríamos dar certo. Nossa família daria certo! Claro que houveram momentos tristes. Antes Nícolas tinha atenção exclusiva de mim e do pai, e de repente ele deixou de ser o centro de nossas preocupações para dividir esse espaço com você. A primeira vez que ele me pediu pra mamar e eu tive que dizer para ele esperar o neném mamar primeiro, ambos choramos um choro muito sentido. Foi quando ambos percebemos que nossa relação tinha, afinal, mudado: Nunca mais ele seria meu bebezinho, pois meu bebezinho agora era outro. Foi difícil, foi sofrido, mas foi também engrandecedor. Passamos eu e ele por isso, e ressignificamos nossa relação. A relação entre Nícolas e o pai também mudou, e também minha relação com o pai de vocês. Todos mudamos com sua chegada; tivemos que abrir espaço para você, e crescemos como pessoas e família (não só em número, mas em maturidade e em amor). Você me fez enfrentar muitos medos e ter ainda mais certeza na minha própria força. 

Tivemos momentos incríveis e únicos ao longo desses 9 meses, desses que ao lembrar me fazem sorrir no canto da boca e às vezes até me tiram uma lágrima. As noites que eu te acalmava cantando para você enquanto andava de um lado para o outro na varanda. Nossos passeios de sling e a sensação única de estarmos grudadinhoos um no outros. As vezes que Nícolas te pagava no colo, te fazia carinho, e quando você começou a sorrir de volta pra ele...
Talvez por ser o segundo filho e não ter sempre um (ou dois) adulto(s) a postos para te atender em tudo, você fez tudo mais rápido... desde o caimento do coto do cordão umbilical, aos 5 dias de vida, até rolar, sentar, levantar, engatinhar... você fez tudo mais rápido do que esperávamos. E apesar disso, não consigo perceber que você está crescendo, somente constato isso pelos números indicados nas medições médicas mensais... Pra mim você parece tão pequenininho hoje como era no dia que nasceu...

E hoje o que posso dizer é que te amo demais, mais do que qualquer outra coisa no mundo. Apesar de ser tão clichê falar isso, eu realmente amo você e seu irmão de uma forma que nunca imaginei amar ninguém. Só quero o bem de vocês, só quero que vocês sejam do bem.

Muito obrigada por ter chegado na nossa família, meu filho Vinícius.
Te amo.

Mamãe.

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