sexta-feira, 12 de novembro de 2021

Banalização da Violência


Já comentei aqui sobre meu incômodo com desenhos animados. Me sinto a "mãe super problematizadora", mas a verdade é que eu acho quase todos os desenhos animados muito ruins em conteúdo. A maioria deles são bastante violentos, e tratam essa violência de forma tão natural e até mesmo "engraçada", que faz com que as crianças absorvam isso e passem a olhar como algo natural também... É a chamada banalização da violência. Por aqui sempre filtramos muito o que permitimos o Nícolas assistir. Na realidade, meu sonho de maternidade ideal era que ele ainda não tivesse nenhum contato com telas, mas como relatei antes, durante a pandemia acabamos liberando telas para não pirar, e agora virou um hábito que não conseguimos mais retirar. 

Um dia desses (ele estava doentinho de molho na cama a semana inteira) fui colocar um novo desenho pra ele assistir, e escolhi Meu Malvado Favorito. Já no começo do desenho, apareceram os minions se batendo, empurrando e rindo disso tudo. Ao invés de rir, como muita criança faria, Nícolas ficou chocado!! Começou a repetir "não pode bater, tem que fazer carinho" e eu rapidamente tirei o desenho do ar. E isso me fez refletir muito sobre como essa "problematização" é muito importante e benéfica para a criação que queremos dar pra ele. Não estou afirmando que necessariamente uma criança que assista a Meu Malvado Favorito vá virar uma pessoa violenta. Eu mesma assistia a esse tipo de desenho (na nossa época não havia tantas possibilidades de escolha, então todos víamos Pica-Pau e Tom & Jerry) e não considero que fui uma criança violenta ou que eu seja hoje uma adulta violenta. Mas certamente após ser exposta a conteúdos (ainda que levemente) violentos, a pessoa passa a tolerar certo nível de violência e achar aquilo natural... 

Gosto de ver como o Nícolas percebe claramente a violência, mesmo que "leve", e se posiciona contra ela. Ele não pratica violência contra ninguém, e não aceita que pratiquem contra ele. Adoro ler os relatórios trimestrais da escolinha, que sempre destacam que durante conflitos com outras crianças, principalmente por causa de brinquedos, o Nícolas ou cede ou chama a professora para resolver o conflito, mas nunca agride nenhum coleguinha. Agora com o irmãozinho, ele tem tomado a mesma atitude. Ele é extremamente carinhoso com Vinícius e adora estar perto, abraçar, beijar... e como é próprio da idade, Vinícius não perde a oportunidade de se agarrar ao cabelo do Nícolas. Obviamente Nícolas não gosta disso e não tem capacidade pra entender que esse é um comportamento instintivo e natural de bebês. Mas a reação dele é a melhor possível: ele tira a mãozinha do Vinícius e fala pra ele, bem sério e um pouco bravo: "Você não pode puxar meu cabelo, Vinícius!!". Talvez se fosse uma criança que achasse natural brigas e tapas (que visse isso no ambiente em que vive ou até em desenhos animados), a reação dele seria revidar com um tapa os puxões de cabelo recebidos...

Eu tenho bastante orgulho da criança linda que o Nícolas é, e acredito que parte disso é natural dele e parte disso é devido à educação que damos; como uma roseira que dá lindas rosas porque é roseira por natureza e porque é cuidada com zelo por seu jardineiro. 

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