Eu já estava com a ideia para escrever esse post antes do Nícolas nascer, ou seja, há quase 3 anos. Acabei me enrolando e não escrevi... Como agora estou revivendo as emoções da espera do parto novamente, resolvi finalmente colocar meus pensamentos no papel (ou no teclado).
Quando comecei a pensar sobre esse tema, eu ainda tinha convicção total que eu teria o Nícolas em um parto normal humanizado, em que meu corpo iria se conectar ao seu lado mais instintivo e animal, e seria uma experiência transformadora. Como relatei aqui, acabou que nada disso aconteceu, e foi bastante frustrante para mim.
Durante algum tempo, antes mesmo de eu estar grávida do Nícolas, eu flertava com a ideia de parir em casa, sozinha. Eu realmente acreditava que essa seria a melhor maneira, uma vez que é algo natural parir. Todas as fêmeas das outras espécies parem seus filhotes sozinhas, em um canto escuro e tranquilo, sem intervenção, sem monitoramento, sem um monte de gente entrando e saindo do ambiente e dando instruções o tempo todo do que se deve fazer. Eu realmente acreditava que se eu conseguisse me isolar do mundo, poderia me conectar o mais profundamente possível com a natureza e fazer aquilo que meu corpo foi feito pra fazer.
Ainda hoje acredito que essa seria, sim, a forma mais natural de parir, e acredito que deve ser uma experiência incrível. E normalmente essa é a justificativa que mulheres que optam por parir sozinhas usam: "Qualquer intervenção ou suporte médico é desnecessário pois parir é um ato da natureza, logo todo corpo feminino sabe o que, quando e como fazer." Inclusive algumas entusiastas mais ferrenhas do parto desassistido não fazem nem acompanhamento pré-natal, pois acreditam que a gestação e o parto não são condições médicas, logo não precisam de acompanhamento de profissionais de saúde.
Hoje discordo em partes dessa afirmação. Isso porque parir é de fato um ato da natureza (essa é a parte que eu concordo). Mas quem afirma que todo corpo feminino sabe parir porque é um ato natural, está se esquecendo de algo muito importante: Seleção natural também faz parte da natureza. A natureza é de fato linda e poderosa, mas nem por isso não é cruel em alguns momentos. Então, não, nem todo corpo sabe parir. Ou nem todo corpo está preparado para superar condições atípicas que possam surgir durante um determinado parto. E na natureza pura e bruta o corpo que não consegue parir é eliminado; na natureza somente os mais aptos sobrevivem.
E aí entra a importância da medicina: ela existe justamente para "burlar" a seleção natural, tornando possível que indivíduos que normalmente não conseguiriam sobreviver a determinadas situações, sobrevivam.
Acredito que a maioria das mulheres teriam capacidade de parir suas crias sozinhas em casa, tal qual as fêmeas selvagens fazem em suas tocas. Mas algumas não teriam. E como não dá pra saber quem é que vai ter problemas ou não, acredito que é bastante válido o monitoramento materno-fetal, mesmo que isso atrapalhe a mulher a se conectar de maneira mais profunda aos seus instintos e viver esse momento de maneira mais autêntica e natural.
Não levanto a bandeira de intervenção médica sistemática e desnecessária de maneira alguma (apesar que se for escolha da mulher ter seu parto totalmente conduzido por profissionais, defendo que ela tem todo o direito a isso). Mas acredito que, já que temos condições de garantir mais segurança para mãe e bebê durante um momento tão delicado que é o parto, por que abrir mão disso?
Talvez o maior desafio seja justamente encontrar o ponto de equilíbrio entre deixar a mulher conduzir e protagonizar seu próprio parto, e monitorar a situação para garantir que os riscos sejam reduzidos ao mínimo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário