Já falei sobre minha vontade de ter um parto normal humanizado, com direito a massagem, banheira, ambiente escuro com música tocando, corte tardio do cordão, comer a placenta (ou não - depende do apetite no momento)... Pro parto do Nícolas contratamos uma equipe excelente de enfermeiras e médica obstétricas que trabalhavam tanto com parto domiciliar quanto com parto hospitalar humanizado. No fim das contas, as coisas não saíram conforme o planejado e optamos por uma cesariana em cima da hora... Fiquei bastante frustrada, chorei bastante, mas por fim me conformei e nutri a certeza que, caso tivesse um segundo bebê, me prepararia ainda melhor e então teria meu tão sonhado parto perfeito.
E agora estou tendo essa oportunidade pela última vez, já que decidimos que não teremos mais filhos biológicos, - talvez futuramente adotaremos mais algum(ns) - mas optamos por nem tentarmos um parto normal. Na contramão disso, farei uma cesariana agendada.
Sinceramente, isso está bem longe do que eu gostaria, em um cenário ideal. Tanto para mim, que serei submetida a uma cirurgia sem uma necessidade médica real, quanto para o bebê, que será retirado do útero antes do tempo natural, a cesariana não é a melhor opção pelo aspecto saúde. Mas eu e marido conversamos demoradamente sobre esse assunto, e considerando todas as circunstâncias em que estamos inseridos, essa nos pareceu a melhor (ou menos pior) opção.
A principal questão que nos fez tomar essa decisão foi: O que faríamos com o Nícolas durante o trabalho de parto? Em um parto normal não temos como prever quando nem qual será a duração de todo o processo... Poderíamos dar uma sorte enorme do parto acontecer rapidamente em um dia de semana, durante o período que Nícolas estivesse na creche; mas também poderia acontecer do parto ser em um final de semana e se arrastar por muitas horas... E nesse caso, precisaríamos de alguém para ficar com ele durante esse período. E não temos alguém que nos sintamos totalmente confortáveis para isso...
Meu pais certamente se disporiam a fazê-lo, mas a verdade é que o Nícolas tem muita energia, e acho que seria muito puxado pra eles... Além disso, temos algumas divergências em relação à criação, e acredito que isso poderia ser bastante estressante pro Nícolas (principalmente em relação ao desfralde: lidamos com naturalidade ao fato de ele usar fraldas, mas minha mãe acha que "já passou da hora de desfraldar", e acredito que durante o tempo que ela estivesse cuidando dele, tentaria adestrá-lo a usar o penico/vaso. Apesar de serem poucos dias, já poderia ser suficiente para causar danos duradouros como constipação, e esse não é um risco que queremos correr).
Outra opção além dos meus pais seria contratarmos uma babá, porque assim explicaríamos exatamente como gostaríamos que ela cuidasse do Nícolas - a princípio uma pessoa contratada cumpriria o combinado mais do que alguém que ficasse com ele como um favor. Cheguei a procurar algumas pessoas, mas aí desisti porque teríamos que fazer uma adaptação dessa pessoa com o Nícolas na nossa casa, e com o aumento dos casos de COVID e o risco que essa doença representa para gestantes, eu não considero prudente contratar alguém para vir diariamente até minha casa, possivelmente de ônibus, colocando a si mesma e a mim em risco.
A terceira opção seria meu marido ficar com o Nícolas e eu ir parir sozinha... Mas dessa forma eu não me sentiria segura emocionalmente. Em um momento tão delicado que é o parto, eu realmente preciso que meu parceiro esteja comigo me apoiando, cuidando de tudo para que eu possa me focar somente no ato de parir.
E uma última possibilidade que também levantamos seria então fazermos o parto domiciliar, e o Nícolas estaria em casa nos acompanhando. Dessa vez meu marido se mostrou até mais receptivo à ideia do que quando Nícolas nasceu, mas a grande questão é que não podemos garantir que o parto ocorreria realmente em casa. Se durante o processo algo não saísse conforme o esperado, eu teria que ser levada às pressas a um hospital, e aí teríamos novamente o problema de precisarmos que alguém ficasse com o Nícolas ou eu iria sozinha para o hospital (e nesse caso, assustada com uma possível complicação).
Além dessa questão do Nícolas, eu também não me sinto segura nesse momento para me preparar para o parto normal como eu gostaria. Para aumentar as chances de sucesso, eu gostaria de fazer atividades como ioga, pilates, e principalmente fisioterapia pélvica. Mas, novamente por conta do COVID, não acho que seja prudente ficar saindo de casa e frequentando ambientes onde outras pessoas circulam. Além disso, também por conta da pandemia, cada parturiente só pode levar um acompanhante para a sala de parto, então para que meu marido estivesse comigo eu não poderia levar um profissional conhecido (uma doula ou enfermeira, por exemplo), e teríamos que confiar plenamente na equipe da emergência do hospital, desconhecida para nós.
Juntando todas essas questões, eu acredito que se insistíssemos em tentar o parto normal, eu não estaria segura e confiante para tal, e a chance de ter alguma complicação seria grande... Quando optamos pela cesariana no nascimento do Nícolas foi exatamente por isso: naquele momento eu havia perdido a confiança que eu tinha que daria tudo certo. E agora, novamente, eu não estou me sentindo confiante como julgo que deveria, para poder me conectar com meu corpo e parir com tranquilidade e segurança.
Dessa forma, decidimos então agendar a cesariana para um dia de semana logo cedo. Deixaremos o Nícolas na creche e seguiremos para o hospital para o procedimento. Meu marido vai poder me acompanhar durante a cirurgia e a recuperação, e ficará comigo durante todo o dia. No final da tarde ele irá buscar o Nícolas na creche, no horário de sempre, e os dois passarão a noite em casa. No dia seguinte meu marido deixará o Nícolas na creche e voltará para o hospital para me fazer companhia até o final da tarde, e assim será por quantos dias eu ficar hospitalizada. Nos momentos em que meu marido não estiver comigo no hospital (do fim da tarde até a manhã seguinte), vamos contratar uma acompanhante.
Não vou poder vivenciar a experiência do parto normal que eu sempre quis, mas certamente já tendo tudo planejado e sabendo que o Nícolas irá sofrer o mínimo possível (certamente ele irá estranhar minha ausência em casa, mas acreditamos que a presença do pai vai ser suficiente para que ele fique bem), vamos poder passar por essa etapa final da gravidez com uma maior tranquilidade. E tranquilidade nesses tempos tão tumultuados e sombrios que estamos passando, é essencial.
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