segunda-feira, 11 de maio de 2020

Dia das Mães e a violência contra as crianças


Ontem comemoramos o Dia das Mães. Como já vem acontecendo há alguns anos, além de ser somente um dia para dar e receber presentes e felicitações, a data também é um dia para nos trazer questionamentos e debates interessantes sobre a maternidade, desde a sua glamourização, sua quase obrigatoriedade para mulheres, culpa materna, as diferenças entre as cargas de mães e pais, e toda uma série de temas super válidos e necessários na nossa sociedade machista, que ainda insiste em colocar quase todo peso da criação das crianças no ombro das mulheres, enquanto os homens são aplaudidos como super-pais quando fazem o mínimo que qualquer pai deveria fazer.

Mas, sem querer desmerecer essas pautas, o que mais me chamou a atenção ontem foi outro tema, de suma importância, mas ainda negligenciado em quase todos os espaços (inclusive feministas): Violência Contra as Crianças.
Recebi um sem-número de mensagens me felicitando por ser mãe, e em várias delas a violência contra crianças foi apresentada como piada. Exemplo disso foi uma mensagem que recebi com a foto de um par de chinelos havaianas, com os dizeres “Feliz dia das mães!!! Uma homenagem das Havaianas. Há mais de 80 anos ajudando na educação dos seus filhos”, em uma menção clara às chineladas que a grande maioria das crianças já levou, a título de “corretivo”.
Certamente essa mensagem não partiu da marca Havaianas – foi alguém que, querendo ser “engraçado”, criou a figurinha. Recebi outras também, fazendo menção a algumas falas comuns de mães, como “Se eu for aí e achar, esfrego na sua cara”, ou “Se eu ouvir um pio, quebro seus dentes”, dentre muitas outras… 

Eu, sinceramente, não vejo graça alguma nesse tipo de piada. Violência não é engraçado. Violência contra crianças, menos ainda.
Infelizmente, sei que essas atitudes vão além das piadas. A grande maioria das crianças realmente passa por algum tipo de violência, seja verbal ou física, ainda hoje. E uma grande parte dos cuidadores que impõem violência à criança, acham que estão fazendo bem para ela; muitos adultos realmente acreditam que a agressão é necessária para se educar e disciplinar. Não conseguem vislumbrar uma maneira de dialogar com uma criança com empatia e respeito, sem ter que lançar mão de violência e medo.
E isso, pra mim, diz muito sobre esse adulto, e que tipo de infância ele teve. A crença de que é necessário violência para ensinar, certamente é reflexo da educação que essa pessoa teve – também cheia de violência e agressões.
Acho que algumas pessoas realmente não conseguem se libertar das ideias equivocadas que lhes foram transmitidas, e outros simplesmente se recusam a pensar nesse assunto, pois isso faria surgir muitos fantasmas do passado.

Quanto a mim, faço questão de olhar com olhos muito críticos a tudo o que aconteceu na minha infância, de maneira a escolher a dedo o que vou replicar na educação que vou dar ao(s) meu(s) filho(s), e o que vou descartar. Como a maioria esmagadora dos da minha geração, também sofri agressões físicas e verbais – todos naquele pacote de “bem intencionados”, com uma embalagem bonita de “estamos fazendo isso para te educar e te transformar em um ser-humano melhor”. Nunca apanhei de forma desproporcional, nunca fiquei com edemas ou cicatrizes, mas as chineladas que eu tomei (foram muitas), se não me marcaram fisicamente, deixaram marcas psicológicas. E posso garantir que nunca serviram para me fazer refletir sobre minhas atitudes "erradas" – quando tomava chineladas, a única coisa que eu nutria era medo e ódio. Nada de bom surgia no meu coração ou pensamentos.
Hoje não carrego mágoa alguma dos meus pais. Sei que sempre me amaram irrestritamente, e que me educaram da maneira que realmente acreditavam ser a melhor, tomando como base a própria educação que tiveram. Mas nem por isso vou aprovar e replicar o que acho que não foi apropriado.
Se  tem algo que eu posso afirmar com certeza absoluta, é que nunca vou levantar a mão (e espero que nem a voz) para o meu menino. E nunca vou permitir que ninguém o faça. Isso é absolutamente contra tudo o que acredito. Se eu quero ensinar meu filho a respeitar as pessoas, tenho que dar o exemplo primeiro, e certamente agredi-lo física e/ou psicologicamente não é um bom exemplo de como se respeitar uma pessoa.

Torço para que cada vez mais mães (e pais e cuidadores em geral) façam esse tipo de crítica. E que os próximos dias das mães sejam cheios de mensagens que transbordem amor, no lugar de piadas de violência

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