Há uma década atrás, eu tinha uma ideia de que uma boa mãe é aquela que tem crianças bem educadas. E que crianças bem educadas são aquelas que obedecem a mãe sem pestanejar e que tremem nas bases apenas a um simples olhar. Eu cresci sendo educada dessa forma, achava que essa era a forma certa e nunca nem havia parado pra pensar que poderia existir alguma maneira diferente de se educar uma criança. A única crítica que eu tinha era sobre bater: mesmo tendo crescido apanhando, eu sempre fui terminantemente contra, e dizia que nunca bateria em meus filhos (mas eu desejava que eles, ainda assim, me temessem e obedecessem a um simples olhar).
Até que um dia, há uns 5 ou 7 anos atrás, por acaso eu vi um post no facebook que uma prima minha compartilhou. O post dizia que não se deve educar uma criança para ser obediente, e a minha prima compartilhou dizendo que não esperava obediência de sua filha. Aquilo deu um nó na minha cabeça, principalmente porque eu conhecia a filha dessa prima (hoje a menina tem 10 anos, então na época ela tinha 3 ou 5 anos) e ela era uma menina super meiga, educada, um encanto de criança. Ao invés de rebater o post (como muita gente faria), eu fui refletir e tentar entender o porquê da minha prima falar aquilo... Até então esperar "obediência" de uma criança era algo tão óbvio, que eu não poderia imaginar que uma mãe poderia não querer filhos obedientes... E esse simples post serviu como uma porta pra mim, que me levou a um universo completamente desconhecido até então de possibilidades gentis e respeitosas e baseadas em evidências para se criar uma criança, além do medo (que até então eu achava que fosse a mesma coisa que respeito).
Não me lembro mais de quem era o post, mas era de algum autor que defende criação respeitosa. Comecei a ler mais a respeito e tudo fazia sentido pra mim. E fui conhecendo alguns defensores de formas de criação que tratam a criança de uma forma mais gentil e respeitosa, considerando sua capacidade de reagir, suas limitações, suas necessidades... Foi quando eu conheci Paizinho Vírgula, PsiMama, Elisama Santos, dentre outros... Simplesmente me apaixonei por tudo que eles falavam. Na época eu ainda não tinha filhos e nem convicção que um dia queria tê-los, então fui consumindo o conteúdo e refletindo lentamente, mas depois que decidi ter filhos, e principalmente depois que engravidei, passei a acompanhar ativamente autores e grupos com esse teor.
Até então Montessori era pra mim somente um método de ensino em que a criança fazia as tarefas escolares na ordem que desejasse. Depois que engravidei e comecei a me interessar por decoração de quartinho de bebê, comecei a ver muitas "camas montessorianas", e então comecei a achar que Montessori era uma forma de educar (tanto na escola quanto em casa) que estimulava a autonomia da criança, de forma a dar menos trabalho para seus cuidadores. E aí, numa busca aleatória por "Montessori" no google (nesse ponto o Nícolas até já tinha nascido), descobri o blog do Lar Montessori. E mais uma vez me vi diante de um universo novo e cheio de possibilidades impensadas. E aí descobri que dizer que Montessori se resume a uma metodologia de ensino é o mesmo que pegar um balde de água do mar e dizer que o oceano se resume àquilo ali. O trabalho de Montessori vai muito mais além do que educar crianças; muito mais além do que transformar o homem. Seu trabalho visa estabelecer uma nova dinâmica entre as interações sociais, quebrando o ciclo da opressão (que é ensinada a nós desde a infância, por meio de uma interação opressora entre adultos e crianças, e dessa forma se mantém e se eterniza a cada geração). O trabalho de Montessori visa modificar de maneira profunda o funcionamento da sociedade, nos mostrando o caminho concreto e real para alcançarmos, finalmente, uma humanidade pacífica.
E desde então, fui procurando mais e mais informação sobre Montessori. Comecei a seguir páginas no Facebook e no Instagram sobre o tema, acompanhar assiduamente o blog Lar Montessori, até que em dezembro surgiu um curso grátis de 4 aulas do Lar Montessori sobre " As Idéias de Maria Montessori". Eu e marido fizemos e adoramos! E depois disso eu resolvi fazer um novo curso do blog Lar Montessori, com duração de 18 meses (2 horas de aula semanal + leituras + fichamento + participação no fórum), que aborda todos os aspectos de Montessori para crianças entre 3 a 6 anos, e tem como objetivo qualificar a pessoa para montar uma escola Montessori voltada para essa faixa etária. Claro que não é meu objetivo atualmente montar uma escola Montessori. Mas, assim como eu, várias outras mães (e talvez alguns pais?) estão fazendo o curso somente para entender melhor sua própria criança, e poder conduzí-la da melhor maneira possível. Atualmente estamos na semana 12 do curso, e realmente não tem sido fácil acompanhar o curso e manter todas as suas exigências em dia. Mas tem sido maravilhoso. Estou aprendendo muito, e estou ansiosíssima para chegarmos à parte do curso em que abordaremos sobre os "materiais Montessori", que são justamente os objetos que as crianças usam para "trabalhar" na sala de aula. Como a escola dos meninos não é Montessori (e eu não pretendo mudá-los de escola até terem 6 anos, pois sou apaixonada na escola atual, apesar de não seguir essa metodologia), pretendo adquirir alguns dos materiais para que eles utilizem em casa mesmo.
E já estou com um olhar super crítico para muitos dos brinquedos deles, plásticos, super coloridos e bem pouco empregados. Vou fazer uma limpa nesses brinquedos vendidos como "educativos", mas que no fundo não acrescentam nada para a criança. Mas falarei disso em um post futuro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário