Muitos professores e outros trabalhadores da educação estão exigindo prioridade para recebimento de vacinas e exigindo que as escolas permaneçam fechadas até que a vacinação da classe seja concluída.
Como justificativa a essas exigências, dizem que a educação deve ser valorizada e acusam quem não apoia a reivindicação de "não valorizar a educação e não valorizar a vida". Alguns ainda somam ofensas aos pais, dizendo que estes pedem a reabertura porque não querem cuidar dos próprios filhos e só estão preocupados em se livrarem de suas crianças.
Discordo totalmente dessa reivindicação. Não sou da área de educação, mas sou uma mãe sobrecarregada fazendo homeoffice com bebê em casa, e entendo a urgência com que deve ser tratada a reabertura das escolas. Na realidade, acho inclusive que já deveria ter acontecido. Mas não acho que isso implique na vacinação prioritária de profissionais da educação, não.
Não é uma questão de valorização da classe ou importância dos serviços. Entendo perfeitamente a importância da educação pra sociedade. Mas não é por esse lado que a discussão deve ser levada. Se fosse assim, então os agricultores deveriam ser vacinados primeiro, pois, ao meu ver, seu trabalho é o mais essencial para o funcionamento da sociedade (sem eles, morreríamos todos de fome: médicos, engenheiros, comerciantes, donas de casa, aposentados, professores e alunos). Lixeiros também são essenciais, e puxando a sardinha pro meu lado, engenheiros eletricistas também (corta a energia elétrica do país e conta quantas horas serão necessárias para todo o sistema de saúde e econômico colapsarem).
A questão não é sobre importância e valorização dos profissionais. A questão é de risco. Risco de contrair a doença e risco de desenvolver formas graves da doença. Idosos e obesos são grupo de risco para formas graves da doença. Pessoal de saúde é grupo de risco devido à alta exposição à doença. Portanto devem ser vacinados primeiro. Não vejo onde os professores e demais profissionais da educação se encaixam entre esses dois grupos.
E esse argumento de "a escola só pode reabrir depois que todos os profissionais estiverem vacinados" também não me convence. Esse seria o cenário ideal, não somente para profissionais da educação, mas para todos os demais. Mas não vivemos nesse mundo utópico. Diversas classes não pararam: policiais, bombeiros, médicos, enfermeiros, caixas de mercado, motoristas de ônibus, lixeiros, caminhoneiros. Todos estão trabalhando desde o início da pandemia, sem vacina. Porque são trabalhadores de serviços essenciais e seus serviços não podem parar, pois causariam danos enormes à sociedade. E 2020 deixou muito claro que escola também é um serviço essencial pra sociedade. Não só pela questão da educação formal, mas também por ser um lugar seguro onde as famílias deixam seus filhos pra poderem trabalhar. Escola é a única rede de apoio de muitas famílias (da minha inclusive).
Querer exigir vacinação prioritária e que a volta do serviço só ocorra após vacinação dos profissionais envolvidos enquanto nenhuma outra classe de serviço essencial está usufruindo desse direito, é lutar por privilégios. E privilégios nunca são bons.
Normalmente apoio as diversas reivindicações da classe, mas dessa vez discordo totalmente. Professores e demais trabalhadores da educação devem esperar sua vez de serem vacinados, como todos os demais cidadãos, e o serviço essencial que a escola promove e que é DIREITO das crianças e das suas famílias deve ser retomado o quanto antes, independente da vacinação.
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