terça-feira, 18 de fevereiro de 2020

Nossos pets e o bebê


Queria poder dizer que a convivência do bebê com as nossas cachorras foi maravilhosa desde o primeiro momento, como nos vídeos fofos que vemos circulando pela internet, mas isso não poderia estar mais longe da realidade.
A verdade é que esses vídeos de animais fofos "cuidando" de bebês e esbanjando amor são um grande desserviço para quem está grávida e pensando se vale a pena aproveitar a chegada do bebê para também adotar um bichinho "para crescerem juntos e serem bem amiguinhos', como costumo ouvir.
Depois de passar pela experiência de ter um RN e duas cadelas dentro de um apartamento pequeno, tudo o que eu digo pra quem está grávida e pensando em adotar um cachorrinho (ou outro animalzinho qualquer) é: Não faça isso!!! Espere o bebê nascer, sinta como a rotina vai ficar louca mudar e só depois decida se você acha que é realmente uma boa idéia adicionar um bicho no meio do caos que é uma casa com neném pequeno.
Animais não são pelúcias. Eles precisam de atenção, exigem paciência e dão trabalho.
E bebês não são bonecos.  Ele precisam de MUITA atenção, exigem MUITA paciência e dão MUITO trabalho.
E juntar as duas demandas tem uma probabilidade altíssima de trazer muito mais frustração e arrependimento do que felicidade para uma família.

Durante toda a minha licença maternidade (e mais ainda durante o puerpério), não houve um só dia que eu não tenha me arrependido de ter minhas cachorras. Primeiro, porque eu só queria um lugar tranquilo e limpo para cuidar do meu bebê, e com as cachorras a casa não estava nunca limpa (pelo menos não no padrão que eu gostaria), e nem tranquila, o que me causava uma angústia enorme. O animal não tem o mesmo senso de higiene que um humano, obviamente, e eu não tinha tempo para estar sempre limpando suas patinhas após os passeios. Então elas traziam barro, restos de gravetos e folhas para dentro de casa. Também, com frequência elas comem algo que não devem, e vomitam (geralmente em cima do sofá), e mesmo com no mínimo 2 passeios diários, elas sempre fazem xixi (ou mais) dentro de casa. Como na época ainda estávamos em um apartamento sem varanda, o local para as necessidades delas era o banheiro da área de serviço, mas mesmo sendo o lugar mais isolado da casa, o cheiro dominava quase todo o ambiente. E pra completar, parecia que elas esperavam o bebê pegar no sono pra começarem a latir e acordá-lo. Isso me deixava enfurecida.
Além disso tudo, eu me sentia triste por elas. Com os cuidados que o Nícolas exigia, quase não me restava tempo para dar a atenção que elas mereciam e eram acostumadas a ter, e elas ficavam visivelmente tristes com isso.
Por várias vezes eu pensei que seria melhor para todos nós arranjarmos uma nova casa para minhas cadelinhas. Mas sempre acabava desistindo, com medo de me arrepender futuramente...

Claro que o fato de eu estar morando em um apartamento bem pequeno e passar os dias sozinha com o bebê e cachorras dentro de casa (enquanto meu marido estava trabalhando) pesou bastante nessa minha experiência ruim. Provavelmente se eu morasse em uma casa ampla com quintal para as cachorras ficarem, ou tivesse alguém para me ajudar diariamente a limpar/arrumar a casa, ou mesmo alguém para fazer longos passeios diários com elas, iria ter tornado esses primeiros meses um pouco (ou bastante) mais fáceis. Mas não foi o caso.

Apesar de serem da mesma raça (inclusive, são mãe e filha), as personalidades de Mafalda e Matilda são completamente diferentes. Mafalda é muito independente. Gosta de estar no mesmo ambiente dos humanos, mas sem muito contato físico. É pacífica com outros cachorros, mas é meio rabugenta com humanos, inclusive conosco. Se sem querer pisamos no seu rabo, por exemplo, ela fica brava, rosna, mostra os dentes, e demora até perdoar (nem parece cachorro).
Enquanto isso, Matilda é totalmente carente. Sempre está ao nosso redor, ama estar no colo, e fica pedindo carinhos o tempo todo. Não é pacífica com outros cachorros (por ter medo de cachorros desconhecidos, prefere sempre partir para o ataque), mas é muito pacífica e tolerante com humanos.
Pelo comportamento de ambas, eu sempre achei que a Matilda fosse ser desses cachorros que amam, lambem, e cuidam do bebê, e a Mafalda é que fosse representar algum risco para ele, pelo seu comportamento "rabugento". Novamente, eu não poderia estar mais enganada.
Assim que chegamos da maternidade com o Nícolas, a Matilda entrou em um estado depressivo claro. Ficou alguns dias deitada na caminha, sem querer brincar ou fazer mais nada. Provavelmente percebeu que seu posto de "bebê da casa" foi roubado por aquele pequeno intruso. Inicialmente ela não ficava nem no mesmo ambiente que ele; quando eu chegava na sala com o Nícolas, por exemplo, a Matilda se retirava.
Já a Mafalda se apaixonou pelo Nícolas instantaneamente, inclusive deu leite e adotou um patinho de pelúcia como filho. Sempre que eu me sentava no sofá para amamentá-lo, ela se sentava ao lado para amamentar seu filho pato também. Não queria sair do lado do Nícolas em nenhum momento; se ele ia ficar em casa, ela tinha que ser levada arrastada para passear, e se saíamos de casa sem levá-la, ela queria conferir se estava tudo bem com o bebê assim que retornávamos.

Com o passar do tempo, tanto a aversão da Matilda quanto o amor da Mafalda diminuíram. Matilda começou a aceitar aproximação com o Nícolas, e hoje em dia ela até permite que ele a acaricie algumas vezes, mas sempre estou por perto, porque tenho medo que ela se irrite com algo que ele faça, e ataque. Já a Mafalda, assim que o Nícolas começou a segurar e puxar seus pelos, foi desgostando dele... Hoje ela permite que ele a acaricie e tem mais paciêcia com ele do que com outras pessoas (por exemplo, deixa que ele pegue o brinquedo da sua boca sem reclamar - ela não deixa ninguém mais fazer isso), mas ainda assim eu sempre permaneço por perto, porque algumas vezes ela cansa dele, e aí começa a rosnar, querendo que ele saia.

Hoje em dia as coisas estão mais tranquilas. Já não me incomoda tanto a sujeira comum que as cachorras trazem pra casa, e nem os latidos delas. Além disso, apesar do grau médio de indiferença com que as cachorras tratam o Nícolas, ele simplesmente ama as duas. É uma graça ver como ele tenta brincar com elas, e tenho convicção de daqui a um tempinho eles serão muito amigos.
Hoje fico feliz por ter aguentado os momentos mais difíceis e ter mantido nossas cachorras em casa. Acho que vai ser muito bom para o Nícolas crescer junto delas.
 Mas ainda assim, se eu pudesse voltar ao tempo, teria primeiro tido meu bebê, sem animais dentro de casa, e somente depois que o Nícolas tivesse maiorzinho (talvez com 3 ou 4 anos) iria adotar um cachorro (e de preferência que não fosse filhote!!)

Nenhum comentário:

Postar um comentário