sexta-feira, 1 de junho de 2018

Armadilhas para o minimalismo


Nesse post eu falei sobre uma maneira para ajudar a decidir se determinado objeto deve ser descartado/doado/vendido, ou se deve permanecer com você. Para balizar essa decisão, devemos nos fazer as seguintes perguntas:
· Esse objeto é útil para mim?
· Esse objeto me traz alegria?
Se ambas as respostas forem "não", então essa é uma indicação que aquele objeto não tem mais um significado pra sua vida, e está somente ocupando espaço e drenando recursos. Portanto, é uma boa opção se desfazer dele.
Porém devemos nos atentar para armadilhas que nós mesmos criamos, na tentativa de justificar a permanência de coisas.

Esse objeto é útil pra mim?

A utilidade de um objeto está diretamente ligada à capacidade de facilitar sua vida. 
Às vezes algo pode até apresentar serventia, mas ao mesmo tempo acrescentar uma nova dificuldade. Foi meu caso quando eu tinha uma panela elétrica de arroz. Ela era útil para fazer arroz, mas minha cozinha era tão apertada, que eu não tinha um bom lugar para guardá-la. Ela ficava em cima da bancada (que também era bem pequena), e toda vez que eu precisava de espaço para preparar alguma coisa, tinha que retirá-la e encontrar algum lugar para deixá-la. O trabalho que ela me dava em ter que ficar colocando de um lado pro outro, não justificava a facilidade que ela me proporcionava. Preferi continuar fazendo arroz no fogão, com uma panela normal (que serve para cozinhar arroz e qualquer outra coisa) e ganhar um espaço a mais livre na minha cozinha. Dei de presente para alguém (nem lembro para quem).
Assim como a panela de arroz, muitas coisas podem aparentar utilidade, mas na realidade estão funcionando como um agente dificultador na nossa vida. Pode ser uma mesa de canto pouco usada que acumula poeira, livros na prateleira que não são lidos (e nem serão) ocupando espaço, roupas que já não servem no guarda-roupas atrapalhando a vermos as que ainda usamos, eletrônicos que esquecemos que temos, lembrancinhas de viagens... Com certeza todos temos em casa muitas dessas coisas, que parecem "esquecidas" pelos cantos, sem utilidade, e que estão lá, nos demandando no mínimo o espaço que ocupam. Qualquer objeto que dificulte mais do que facilite a vida, não está sendo realmente útil.

Esse objeto me traz alegria?

Essa é a maior armadilha que podemos criar para nós mesmos. Porque a resposta é totalmente subjetiva, e é muito fácil respondermos que "sim, tudo o que eu possuo me traz alegria" e então chegarmos à conclusão que devemos manter tudo o que temos na nossa casa, por mais lotada de objetos inúteis que ela esteja.
Por isso, para responder a essa pergunta, temos que ser realmente francos com nós mesmos. Algo pode, sim, não apresentar nenhuma utilidade prática, mas trazer uma lembrança de alguém especial, ou de um momento bom, e assim ser capaz de nos fazer felizes. Mas com certeza esse não é o caso da maioria dos objetos que possuímos em nossa casa, e se acreditamos que é, talvez isso seja sinal de algum problema mais profundo (que estamos dando valor demais a objetos, em detrimento do que realmente é importante).
E mesmo essa "alegria" deve ser analisada... Uma pessoa que possua uma coleção de canecas (ou de qualquer outra coisa), por exemplo, pode gostar e se sentir feliz com suas canecas. Mas o tempo despendido para limpar cada uma, é um momento de alegria? E se em vez de gastar o tempo na manutenção de sua coleção esse tempo fosse gasto de outra forma (vendo um filme, lendo um livro, visitando alguém querido, praticando um esporte, aprendendo algo novo ou mesmo descansando), seria um tempo mais ou menos proveitoso? Vale mesmo a pena manter a coleção?
A felicidade que um objeto nos traz deve ser pesada e comparada à felicidade e leveza que poderíamos desfrutar caso esse objeto não estivesse na nossa vida.


No fim das contas, a decisão por iniciar uma caminhada minimalista é totalmente pessoal. Não adianta dizermos que queremos buscar uma vida minimalista mas ficarmos justificando a permanência de tudo que acumulamos. Não existe nenhum tipo de cobrança externa ou termômetro para medir o minimalismo de cada um (ou pelo menos não deveria existir).
Por isso, quando se toma essa decisão, o mais importante é ser sincero consigo mesmo. Cada um é o próprio responsável, juiz e crítico de sua vida. E ao mesmo tempo, cada um será o único ( ou pelo menos o maior) beneficiado nessa trajetória.

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