sexta-feira, 22 de março de 2019
Vai passar...
Vejo em muitos espaços sobre maternidade, pessoas entoando o mantra "vai passar, vai passar"... Em cada choro pensam "vai passar". Cada doença, "vai passar". Cada birra, "vai passar"... E assim vão aguentando as dificuldades da maternidade, aguardando ansiosamente quando o tempo "vai passar", e com ele aquela fase difícil da criança.
Quando ouço pessoas recitando esse mantra para si mesmas e umas às outras, só me lembro daquele filme Click, onde o personagem consegue um controle remoto que "pula" todas as dificuldades da sua vida, e no fim ele acaba pulando a vida toda e percebendo o quanto perdeu. Porque, assim como o filme mostra, a vida é formada por dificuldades (ou desafios, depende do ponto de vista), e querer esperar o dia que tudo estará resolvido e perfeito para finalmente aproveitar a vida, é tudo de mais triste que se pode acontecer.
Não digo que a maternidade não seja muito difícil, e nem que não existam momentos realmente exaustivos em que tudo que se deseja é que a criança durma pra podermos dormir um pouco também... Também não condeno de forma alguma mulheres que se abraçam a esse mantra pra conseguir manter a sanidade mental em momentos de desespero (a sociedade já está toda aí, pronta para culpabilizar mães, não serei eu mais uma a fazer isso). Até porque, reconheço os privilégios que tenho, e que infelizmente boa parte das mães não tem: um companheiro que é verdadeiramente pai do meu filho e que divide comigo os cuidados com o bebê e com a casa; uma vida financeira estável que permite que eu me dedique à maternidade sem preocupações; saúde perfeita para enfrentar cada novo dia, dentre tantos outros. Se para mim é difícil, imagino quanto mais difícil é para uma mãe que precisa cuidar sozinha do(s) filho(s), da casa, e ainda se preocupar em como conseguir dinheiro para manter todos.
Mas, de toda forma, quando nos colocamos na posição de estar sempre esperando que a fase atual (com suas dificuldades naturais) passe, estamos automaticamente nos boicotando de aproveitar os pequenos (e enormes) prazeres que ela também nos traz.
Seria a mãe que fica ansiosa para seu filho aprender a dormir sozinho, em vez de saborear os momentos de tê-lo ali, tão pequenininho, adormecido somente em seus braços. Ou a mãe que mal pode esperar para que o filho pare de segui-la pela casa toda, em vez de aproveitar todo aquele amor que sua cria nutre por ela, e que nunca mais será tão intenso.
Porque, no fim das contas, realmente tudo vai passar, e vai passar tão rápido, que quando nos dermos conta, só restará a nós a saudade de termos nossos pequeninos, tão frágeis e dependentes, nos nossos braços.
Linda fase essa, em que só minha voz é suficiente para acalmá-lo. Maravilhosa fase essa, em que nada substitui o meu calor para fazê-lo dormir. Abençoada fase essa, em que minha presença é tudo que ele precisa para ser feliz. E, se eu pudesse, eu falaria: Por favor, não passe nunca.
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