quarta-feira, 29 de março de 2023

Dificuldades para manter uma alimentação saudável


No post anterior, comentei sobre como conseguimos manter uma alimentação bastante saudável pros meninos até hoje, cultivando bons hábitos, e como nos orgulhamos disso. Mas nem sempre é tão fácil conseguir mantê-los longe de basteiras. E, por mais incrível que possa parecer, normalmente as "birras e teimosias" que temos que enfrentar não são eles que fazem, e sim os adultos próximos (e às vezes nem tão próximos). 

É obvio que alguém não sente vontade de comer algo que não conhece. Eu nunca provei comida vietnamita, então não sinto vontade de comer. Pode ser que depois que provar pela primeira vez eu adore, e a partir daí passe a querer consumir mais e mais, e sinta falta quando não tenha disponível. Assim também são as crianças em relação a algo que elas nunca comeram, incluindo as ditas "porcarias". Uma criança não sente uma vontade enorme de comer um picolé de unicórnio (que não passa de um tanto de gordura, açúcar, corantes e aromatizantes altamente artificiais) até que um adulto lhe dê um picolé de unicórnio pela primeira vez. E eu já fui criticada uma vez, durante um passeio, porque o Nícolas estava comendo uma maçã enquanto a prima da mesma idade estava comendo o tal picolé de unicórnio... Ele estava feliz da vida com o passeio, adorando a sua maçãzinha, mas meus pais estavam me julgando uma megera por não deixar o menino comer o bendito picolé (provavelmente) cancerígeno.
Também já ouvi centenas de vezes a frase clássica "mas só um pouquinho não faz mal", se referindo principalmente a refrigerante... Pode até não fazer (muito) mal, mas certamente bem também não faz, então não há motivo para dar. Até porque, caso a criança goste, talvez da próxima vez queira mais e mais e mais, até o ponto de estar consumindo uma quantidade que faz mal.

Com meus pais, já passei por muitas situações de eles dizerem que eu estava maltratando as crianças por não permitir refrigerante, picolé, bala, chocolate...  Jáchegou num ponto do meu pai falar quase chorando "poxa, mas eu nunca vou poder dar uma caixinha de chocolate pros meus netinhos... eu queria tanto..." Tive que ser muito firme para manter minha resolução, mas finalmente eles entenderam que os meninos sentem exatamente a mesma felicidade que outras crianças quando ganham seus quitutes preferidos. A diferença é que os quitutes preferidos deles são mirtilos, enquanto pra maioria das crianças é chocolate. Isso aconteceu num dia em que fomos visitá-los, e que eu sugeri que meus pais comprassem mirtilos pra eles. Eles começaram a pular e gritar "oba, oba" quando viram uma bandeja cheinha de mirtilos chegando. Pararam a brincadeira e não saíram de perto até comerem o último. Provavelmente uma criança acostumada com picolé de unicórnio, balas e pirulitos não sentiria o mesmo prazer com mirtilos... A partir daí, meus pais passaram a sentir prazer em oferecer frutas pros meninos. Ainda bem!

Mas mesmo os adultos com menos "intimidade" atrapalham, ainda que indiretamente e sem intenção. É o caso quando assumem que açúcar é um ótimo presente para crianças. Crianças podem até ter uma tendência natural a gostar de sabores adocicados, talvez pela alta necessidade energética, talvez pelo leite materno ser doce... Mas certamente crianças não são formigas!! São os adultos que elevam os doces a uma categoria de "divinos", e ensinam isso às crianças. É quando, por exemplo, em uma brincadeira de caça ao tesouro, o tão procurado e querido tesouro é um doce... Ou quando doces são usados como prêmios e consolos (após a crianças tomar vacina, tirar sangue, etc). Ou as tais lembrancinhas de aniversários, que vem recheadas de açúcar. Ou simplesmente quando um adulto aleatório quer fazer um agrado e oferece um doce pra uma criança sem nem mesmo perguntar aos pais se pode...
Eu geralmente faço uma varredura em postos de saúde e consultórios, e se vejo que tem um pote de doces, já aviso logo que não é pra dar pros meus filhos. Em aniversários, eu tento pegar a sacolinha e distrair o Nícolas pra fazer uma limpa nos piores doces, antes que ele veja... E nas demais situações, tento sempre estar atenta para que não entreguem doces a eles... 
Nessas situações, geralmente as pessoas ao redor não me olham com bons olhos, mas pra mim é muito mais importante manter o paladar dos meus filhos sem vício de tanto açúcar do que agradar desconhecidos... então sigo agindo assim mesmo.

Temos a grande sorte dos nossos meninos serem muito saudáveis. Essa questão do açúcar, e até do veganismo, é puramente por escolha e por acreditarmos que isso é o melhor para eles. Mas se pra gente já é tão difícil, fico imaginando quanto não deve ser péssimo para pais de crianças com restrições alimentares ocasionadas por problemas de saúde, como crianças alérgicas ou diabéticas... deve ser realmente muito complicado estar na carne deles...




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