quinta-feira, 20 de outubro de 2022

Venda e Compras

Depois da experiência de vender vários brinquedos dos meninos e trocar por um único brinquedo de valor elevado (vendas e compra), finalmente decidi vender um objeto que eu tinha há bastante tempo, sem uso, e usar o dinheiro para investir em algo de qualidade para os meninos. O objeto em questão era uma pistola de ar comprimido olímpica.
Nos anos de 2009 e 2010 eu fui atleta federada de tiro esportivo (competia em Pistola 25m, com uma pistola calibre 22mm "cautelada" e Pistola 10m, com a pistola de ar comprimido que era minha, ambas modalidades olímpicas). Eu gostava bastante do tiro esportivo. Ao contrário do que possam pensar, o tiro olímpico é um esporte de muita técnica e que exige uma enorme concentração, e não há nada de violento nele. Dentre todos os esportes, considero que esse é o que menos se leva em conta o porte físico do atleta, e o que mais conta a preparação psicológica, tanto que normalmente os melhores atletas são mais velhos, pois os anos de técnica superam um físico jovem. Os treinamentos e principalmente as competições, pra mim, eram como uma meditação: eu precisava me desligar de tudo o que estivesse acontecendo no meu entorno, de todos os meus pensamentos, e focar unicamente na técnica do "tiro certo".

De toda forma, por muitos motivos bastante diversos (que incluíam desde a aproximação da Federação de Tiro Esportivo à Federação de Caça Esportiva - eu abomino caça esportiva; matar nunca deveria ser considerado esporte - até todo o impacto que continuar como atleta "profissional" acarretaria na minha verdadeira carreira profissional - sou engenheira e sempre quis ser; nunca foi meu sonho ser atleta, foi somente uma oportunidade que me apareceu) decidi abandonar a equipe de tiro no final de 2010. Me encontrei em uma situação em que tive que escolher entre participar de uma grande competição mundial que ocorreria no Brasil ou fazer um mestrado em engenharia elétrica, e optei pela segunda (e nunca me arrependi). Depois dessa escolha, ainda mantive minha pistola de ar comprimido por um período, considerando atirar de forma menos séria. Mas depois de treinar de forma séria durante um tempo, não fazia mais sentido pra mim fazer "mais ou menos": ou eu treinaria de verdade, ou não participaria das competições. E como nunca foi uma prioridade ocupar meu tempo com treinos diários, acabei sempre adiando o projeto de voltar a atirar.

Até que, finalmente, me convenci há alguns anos que eu não queria mesmo voltar a praticar o tiro. Foi quando a extrema direita começou a ganhar corpo, e toda essa discussão sobre armar a população veio à tona. Eu sou extremamente contra população civil armada, então não fazia muito sentido eu ter uma arma em casa, ainda que fosse só pra praticar esportes. E como a maioria das pessoas dentro do esporte são de extrema direita, com ideias bastante preconceituosas e reacionárias, de maneira geral, esse foi mais um incentivo para que eu me afastasse do esporte definitivamente.

Mas ainda passei uns bons anos guardando essa pistola pelo simples hábito de procrastinar... até que a venda desses brinquedos me deu o incentivo final que eu precisava, e finalmente me mexi para vender a pistola. Vendi para uma menina cadete, que quer competir (trilhar mais ou menos o mesmo caminho que eu trilhei no começo). Vendi por um preço consideravelmente baixo, mas foi bom porque foi uma venda super rápida, e com o dinheiro que ganhei me dei ao luxo de comprar mais dois brinquedos Montessori pro Vinícius e também uma bonequinha mini-bebê-reborn, que virou a paixãozinha dos meninos (é a coisinha mais linda ver os dois "cuidando" da neném) e confesso que minha também.

Pra além da questão de economia de dinheiro e destralhe de algo que eu não usava mais, para mim foi algo tão simbólico trocar uma "arma" por "materiais Montessori". Quase um milagre, semelhante a transformar água suja em vinho da melhor qualidade.

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