quinta-feira, 20 de outubro de 2022

Pão

Eu tento sempre não ficar impedindo os meninos de fazerem coisas que eles querem fazer, se não houver um motivo real para isso. E é espantoso perceber como os adultos são tiranos com as crianças, e ficam o tempo todo dando ordens e restrições que não são realmente necessárias. Mesmo eu, que faço um esforço consciente para me livrar dessa "tirania" enraizada, ainda me pego em situações em que tenho um impulso de agir assim, de forma automática (e algumas vezes, infelizmente, só percebo depois de agir).

Um dia desses, na hora de saírmos de casa para trabalho/escola, o Nícolas quis guardar um pão no porta-malas do carro. Meu primeiro impulso foi dizer pra ele que o porta-malas não era lugar de pão e pedir que tirasse de lá. Mas, por sorte, assim que o impulso veio, veio também um pensamento de "por que não? É só um pão e não vai acontecer nada de ruim porque tem um pão no porta-malas", e me calei. Quando chegamos no trabalho do pai (rotineiramente eu deixo o marido no trabalho, depois deixo os meninos na escola e depois vou pro meu trabalho) e ele foi abrir o porta-malas pra pegar sua mochila, o Nícolas falou: "Papai, tem uma surpresa pra você. É um lanchinho pra você levar pro trabalho. É pra levar pra comer lá, tá? Pega no porta-malas", se referindo ao pão. 

Aquilo foi tão doce, tão lindo, um gesto tão gentil e carinhoso da parte dele, e que poderia ter sido podado se eu não tivesse deixado ele colocar o pão no porta-malas. Ainda bem que naquele momento eu percebi e controlei meu impulso de tirania. Mas quantos momentos doces e gentis das crianças não acabamos impedindo de acontecer por causa da nossa necessidade constante de controlá-las, né?

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